domingo, 14 de abril de 2013

O tabu do debate sobre religião no Brasil


Imaginem a seguinte situação: em uma mesma rua se encontram um terreiro de umbanda e uma igreja pentecostal. Em uma determinada noite fiéis da igreja pentecostal invadem uma cerimônia que ocorre no terreiro, agridem as pessoas que se encontravam no local e destroem as estátuas e os objetos sagrados. Tudo isso regado a gritos de que ali se encontravam “adoradores de Satanás” e que estavam “agindo em nome de Deus”. Os agressores são presos. Porém, na igreja pentecostal, o pastor que celebra o culto continua se referindo em tom triunfalista aos adeptos do terreiro local como “endemoniados”, chama os orixás e entidades de “demônios disfarçados” e estimula uma “cruzada” contra o terreiro. É devidamente denunciado para as autoridades, mas o pastor recorre a uma cartada: inverte a acusação de discriminação religiosa e, com seu discurso, transforma-se de agressor para “vítima”, acusando as autoridades de restringirem sua liberdade. Ganha o apoio de diversas outras denominações evangélicas, com pastores televangelistas e políticos teocratas insuflando o discurso de vitimização do pastor e dizendo que as autoridades querem uma “ditadura umbandista”.

Essa situação é muito comum no Brasil, embora mudem os atores. Em geral acaba não levando a lugar nenhum, com o agressor continuando o seu discurso violento com o benefício de um tabu. Esse tabu é a ausência de um debate sobre a liberdade religiosa no Brasil. Considerado um valor absoluto, a sociedade brasileira teme colocá-lo em pauta até quando a liberdade de culto ultrapassa os limites da legalidade e do bom senso. Encerrados nos templos, sacerdotes pregam o que bem entendem, podendo passar ou uma mensagem positiva, ou uma mensagem que possa prejudicar um determinado indivíduo ou grupo.  Quando sentem seu discurso ameaçado, recorrem ao truísmo da liberdade religiosa e da tolerância para que qualquer debate seja encerrado.

A impressão é de que os templos religiosos são locais onde á sociedade e o estado não encontram vez de impor qualquer norma, sendo a única lei obedecida, e de forma muito relativa, aquela manifestada pela deidade adorada no local e de seu livro sagrado. Tal fator, combinado à facilidade de se montar novas religiões no Brasil – onde templos religiosos são isentos de impostos por serem encarados como entidades sem fins lucrativos – tem fomentado um poderio que fica cada vez mais forte e que se torna cada vez mais difícil de controlar. Quando a sociedade e o estado não debatem se uma determinada religião pode pregar sobre aquilo que bem entender, sem se importarem se esse comportamento é negativo ou prejudicial, as religiões ficam livres para impor sua agenda ao estado - recorrendo até mesmo à eleição de bancadas parlamentares que atendam aos seus interesses e que visem impor seus dogmas para o restante da sociedade.
   
Não podemos continuar tratando a religião e o culto como instituições intocáveis. Não são, de maneira alguma, entidades sem fins lucrativos. Cada vez mais ganham notoriedade os sacerdotes neorricos, donos de verdadeiros impérios empresariais que não se limitam somente ao templo, embora esse seja o primeiro e, possivelmente, o mais lucrativo “negócio”. Também não devem ser encaradas como pilares da ética e da moral de outrora. Apologia à intolerância, à discriminação, à destruição de culturas e religiões diferentes e também à alienação individual são constantes em diversos templos do país. Temos uma visão do século XVIII sobre a religião. Mas na realidade muitas religiões atuais são guiadas pela agressividade competitiva da lógica de mercado e não pela coesão social que a crença a uma divindade propõe.

Mesmo assim, continuamos com medo de colocar a questão em pauta. O que está no templo religioso, fica no templo religioso. Se algum determinado grupo se sentir prejudicado pela mensagem lá passada, azar! Quando há qualquer oportunidade para se debater sobre a questão, o debate é imediatamente desviado e distorcido para que insufle os sentimentos dos fiéis e todos os argumentos objetivos são soterrados por uma enxurrada de falácias. E continuaremos a não perceber que deve haver liberdade religiosa, mas que religiões não deveriam ser isentas das responsabilidades que recaem sobre qualquer manifestação social, sendo submetidas a um estado laico e democrático.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Indagações sobre a primeira semana do julgamento do Mensalão


Depois da espera de 7 anos desde a descoberta do escândalo do Mensalão, tivemos está semana o enfim aguardado julgamento do ocorrido. Após acompanhar os comentários nas redes sociais e das transmissões das notícias via TV e impresso do julgamento, e dos fatos que as precederam, me dou ao luxo de antecipar minha indignação como cidadão, eleitor e mesmo espectador. Não apenas indignado, sinto-me humilhado ao acompanhar um julgamento de muita importância para a população ser transformado, logo na primeira semana, em um patético circo teatral dos diversos grupos envolvidos no ocorrido, não se restringindo apenas àqueles que estão atuando diretamente na tribuna do STF. Vou enumerar os motivos:

1) Algumas semanas antes do julgamento, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do país, anunciou que pretendia fazer uma manifestação em relação ao Mensalão. O objetivo? Um ato em prol dos réus. O novo presidente da entidade declarou que o julgamento não pode ser "político". Seria ótimo se assim fosse, mas obviamente é impossível que o julgamento não tome um rumo político. Pois só a decisão de inocentar ou culpar há de acirrar os ânimos das diversas partes interessadas, inclusive da CUT, que em um ano marcado por inúmeras greves trabalhistas nos setores privados e públicos, se preocupa em dar apoio político-partidário aos réus do processo;

2) Depois da CUT se desviar de suas funções sindicais para bancar a capataz de um grupo que sequer possui alguma representatividade perante os meios trabalhistas, entramos enfim na legitimação da teatralidade do julgamento. Com especial destaque ao telejornal mais influente do país, os meios de comunicação, que poderiam realizar uma cobertura séria, optaram pela previsível espetacularização. No lugar de se ater ao que de fato interessa ao público, preferem afirmar que um dos ministros do STF não deveria julgar por ter  tido alguma ligação com o partido dos acusados, fazer apostas sobre o desfecho do julgamento e fazer joguinhos maniqueístas. Houve honrosas exceções, em especial entre alguns colunistas como Jânio de Freitas e Paulo Moreira Leite, mas geralmente é uma repetição do show patético que já vimos na cobertura da CPI dos Correios;

3) E por falar em CPI dos Correios, o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, parece simular à eloquência de Roberto Jefferson no que diz respeito a jogar para as câmeras. Em sua atuação durante o julgamento, o procurador optou por purpurinar sua leitura do processo. Pois além de citar os motivos para a condenação dos réus, demonstra gosto por frases de efeito como: "É o maior caso de corrupção da história do Brasil", apostando na amnésia estrutural da qual sofre o Brasil. Também fez citações de Chico Buarque para enfeitar a leitura. O jogo funciona e Gurgel simplesmente foi alçado à categoria de "herói" pelas câmeras ansiosas em construir um; 

4) Enquanto isso há sempre os interessados presentes nos Facebooks e Twitters da vida que realmente parecem atender aos apelos do show e mostrar que entenderam a mensagem transmitida pelos grupos de interesse. Os efeitos são diversos: dos fanáticos petistas que chamam o Mensalão de farsa até os reinaldistas que espumam pela boca só de ouvir o nome do PT, passando por aqueles que acreditam de coração que um julgamento que demorou 7 anos para ocorrer e a eventual condenação dos réus vai servir para diminuir a incidência de corrupção no meio político. Sendo que há 20 anos, no retorno à democracia, depusemos um Presidente da Republica que estava sendo acusado de corrupção. Não é necessário dizer que a corrupção é praticada até hoje nos meios públicos, mesmo depois da deposição daquele presidente, que hoje em dia é senador.

Com isso morre qualquer impressão de que teremos uma abordagem séria do julgamento. A população brasileira vai receber em suas casas uma versão hollywoodiana da vida real. Enquanto os fãs de Lula e Reinaldo Azevedo se matam para ver quem vai vencer, já temos dois perdedores: um é a seriedade política, que foi novamente sobrepujada pelo teatrinho à romana; o outro perdedor é o povo brasileiro, sendo mais uma vez considerado como fantoche dos grupos políticos envolvidos com tal acontecimento, direta e indiretamente. 

sábado, 23 de abril de 2011

Juventude empacada

Depois de um tempo sem escrever pra este blog (na verdade, têm outros textos ainda em produção, mas tratam-se de contos que ainda vão demorar para serem publicados) voltei para tocar num assunto que vem chamando a atenção. No texto anterior, escrito no fim do primeiro turno da eleições, comentei sobre o núcleo jovem dos apoiadores de Marina da Silva pra presidência. Ao contrario do que ocorre em outros países, donde os jovens se mobilizam para votar em um candidato renovador, o voto da "onda verde" de Marina da Silva foi o voto de uma juventude majoritariamente conservadora, como ficou comprovado no segundo turno onde boa parte deles apoio incondicionalmente o candidato tucano.

Recentemente vemos demonstrações de que parte da nossa juventude não é apenas apática em relação a política. Cada vez mais jovens estão demonstrando seu ódio e preconceito. Fica bem evidente a vocação de parte da geração Y brasileira possui para o ultra-conservadorismo. Tá certo que isso não chega lá a ser novidade. Vemos cada vez mais comunidades que incitam o ódio em redes sociais, organizações de "movimentos separatistas" estaduais que não economizam pra falar mal da cultura trazida pelos migrantes e não é necessário comentar as inúmeras agressões de pitboys contra homossexuais nas grandes cidades do país. 

Engraçado é que essa guinada de um naco da juventude brasileira para o que existe de pior no pensamento conservador é impulsionada pelas redes sociais. Além das já conhecidas comunidades de orkut que incitam o ódio e o preconceito - que já causavam muita dor de cabeça para a polícia e o Google - vemos também a proliferação de perfis ultra-conservadores, alguns até beirando o fascismo, em redes sociais como o Twitter que não se incomodam de  despejar rancor contra atos progressistas tanto do governo e de movimentos sociais e de manifestar a sua preocupação com a tradição, familia e propriedade. Também vale apena lembrar dos twittaços preconceituosos que atacavam minorias ou que defendiam personalidades que incitavam o ódio na sociedade, muitas vezes fazendo eco para essas declarações de ódio. Não é raro ver que muitas dessas páginas e perfis em redes sociais possuem uma audiência significativa.

Pior é ver que nossa juventude está indo na contramão em um momento que mobilizações juvenis têm sido significantes para a ascensão e queda de governos no mundo inteiro, ajudando na renovação da política. Do conservadorismo "inofensivo" dos anéis de castidade com patrocínio de super astros ao ódio escancarado dos pitboys contra minorias nas redes sociais ou mesmo em locais físicos como a Avenida Paulista, nossa juventude tem feito um papel preocupante na reação contrária a conquista de direitos que muitos setores da sociedade brasileira lutaram por muito tempo para conseguir. 

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma Onda Verde de tristeza



Pois é, estamos no segundo turno. Apesar de não desejar, também não me surpreendo. Já imaginava que seria difícil Dilma ganhar no primeiro turno. O que me deixa pasmo foi o que levou a tal momento: a quantidade imensa de votos que Marina recebeu, quase 20%. Marina e o Partido Verde conseguiram mobilizar o público jovem, uma fatia do eleitorado que pouco é levada em consideração. A maior amostra disso foi a popularidade da candidata na rede social Twitter. Entre os Trending Topics, os assuntos mais comentados dessa rede social, podia-se ver com constância o nome e o numero de Marina e a expressão Onda Verde cada vez mais popular.

Marina ganhou uma quantidade de votos que nenhum presidenciável nanico não via desde Collor, mas não levou. O Segundo Turno será disputado entre Dilma Rousseff do PT e José Serra do PSDB. Como Marina não conseguiu chegar lá, espera-se a lógica divisão do bolo entre os candidatos restantes. Agora, se você pensava que a “geração twitter” pretendia ou pretende elaborar uma pesquisa que vá a fundo a ambos os candidatos e decidam assim qual é melhor ou “menos pior” você esta lamentavelmente enganado.

Os resquícios da Onda Verde que podemos ver no twitter são lamentáveis. Jovens eleitores de Marina frustrados declarando voto em Serra (mudando, obviamente, a temática para uma suposta “Onda Azul”), porque simplesmente não gostam da outra candidata. Poucos são os que se propõe dar uma chance pra presidenciável petista, ou mesmo o beneficio da dúvida. Querem vê-la fora da presidência talvez por um preconceito bobo, ou talvez por falta de perspectivas.

Mostra-se agora, no segundo turno, o que realmente foi a Onda Verde: o reflexo de uma juventude alienada e carente de visão política. Votaram na Marina por que era alternativo, era "radical-chic", e não por que simpatizavam com a causa do meio ambiente ou coisa parecida. Agora muitos pretendem votar no Serra sem pesquisar de forma profunda o histórico dos dois candidatos, nem pretendem dar uma chance a Dilma.

 A internet atualmente é a mais diversa e prolífera fonte de informações, que deve claro, sempre estar acompanhada do senso crítico. As informações estão ai, mas a geração twitter prefere confiar na caixa de E-mails, onde o Span reina, onde comprovadamente difamações e calunias são disseminadas com a velocidade de uma peste mortal.

Antes que me perguntem, isso não são declarações pró-Dilma (tá talvez sejam), são sim declarações pró-pesquisa, pro-aprofundamento. Um incentivo, com alguns cascudos, ao dever do cidadão de pesquisar a fundo os candidatos que serão colocados em julgamento no dia 31 de outubro por você eleitor. Por que uma das piores coisas que você pode fazer pela democracia é votar de forma preconceituosa e imediatista.

Portanto, bom segundo turno nestas eleições, que o maior beneficiado delas seja o povo brasileiro.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pet Sounds


Quem diria que um grupo de moleques californianos, pseudosurfistas que gravavam músicas pueris sobre praias, garotas de biquíni e, claro, Surf, criariam um dos melhores e mais belos discos de todos os tempos. Os moleques eram da bem sucedida banda de Surf Music conhecido como The Beach Boys. Essa pequena reviravolta na vida desses rapazes recebe o nome de Pet Sounds, disco gravado em 1966.

Não por acaso pretensiosa desventura ocorreu na década de sessenta, na qual um bando de jovens ingleses de cabelo de cuia, também anteriormente acusados de serem simplórios e “bonzinhos”, acabou por revolucionar á música popular com seus experimentos, elevando-a de mera diversão para uma forma respeitada de expressão cultural. Diga-se de passagem, foi graças às inovações desses garotos ingleses que o americano Brian Wilson, lider dos Beach Boys, decidiu que sua banda deveria buscar novos vôos caso quisessem rivalizar com aqueles caras provindos da ilha da rainha.

Dito e feito. Brian foi atrás de Phil Spector, produtor respeitado pelos recursos sonoros que empregava nas músicas da qual era responsável. Spector concedeu a Brian seus músicos de estúdio para a gravação de Pet Sounds. Wilson também chamou um rapaz chamado Tony Asher para ajudá-lo na composição das letras. Os Beach Boys - cujo restante era formado pelos irmãos de Brian, Carl e Dennis, o primo Mike Love e o amigo Alan Jardine – ficariam responsáveis pelos vocais.

O resultado final foi esplendido. Brian Wilson não só seria tratado futuramente como um dos mais conceituados compositores de música Pop, como conseguiu atingir momentaneamente seu objetivo de rivalizar com os Beatles. Paul McCartney chegou a declarar que Pet Sounds seria a principal motivação para a criação de Sgt Pepper Lonely Hearts Club Band, álbum considerado o mais importante do Rock.

A concepção de Sgt Pepper se transformou em um novo peso na cabeça de Brian Wilson que, em sua busca por um álbum que superasse a obra-prima dos Beatles, entrou em colapso mental. Esquizofrênico, teve a doença agravada pelo uso de drogas como o LSD. O álbum que estava preparando, denominado Smile, só chegaria a ver a luz do dia em 2004.

Passando de mera historia para a opinião desse humilde blogueiro, por mais que os álbuns dos Beatles (em especial Sgt Pepper e Revolver) sejam considerados os melhores e mais importantes discos da música Pop, vejo Pet Sounds sem sombra de dúvida como o álbum mais belo que essa cultura industrializada já gerou.

É difícil não gostar das melodias criadas por Brian Wilson. Gosto de absolutamente todas as músicas do álbum, sendo que mesmo nos melhores álbuns dos Beatles houvesse algumas músicas que não apreciasse com grande entusiasmo. São quatorze canções para ouvir e cantar.

É também um álbum pop que beira a perfeição em todos os sentidos. O instrumental dos músicos cedidos por Spector pôde captar excelentemente as influencias de Wilson, do erudito ao Jazz. Os Beach Boys conseguem atingir uma das mais consagradas harmonias vocais já ouvidas no universo da música Pop. As letras, apesar de que em alguns casos podem ser consideradas datadas, demonstram a potencial capacidade lírica de Wilson e de Asher para falar de temas como envelhecimento e relacionamentos.

Selecionar as melhores músicas de um álbum perfeito é difícil, mas escolherei a faixa de abertura “Wouden’t It Be Nice”, a belíssima melodia de “Don’t Talk, a clássica “God Only Knows”, a sensacional “Here Today” e o instrumental que da nome ao álbum.

Pet Sounds por fim está no topo da minha lista de discos favoritos e demonstra como uma banda antes considerada bobinha pode amadurecer e ganhar importância.

terça-feira, 30 de março de 2010

Os Replicantes



Aproveitei o ultimo carnaval para ver filmes de ficção cientifica. Não, não no cinema onde o arrasa quarteirões denominado Avatar bate todos o recordes de bilheteria com seus efeitos em 3D “revolucionários”. Me recuso a ser mais um para inflar o ego de James Cameron. Neste carnaval simplesmente parti para algo mais barato e preferi alugar o clássico dos anos 80 Blade Runner: O Caçador de Andróides para assistir em casa.

Nunca tinha assistido ao filme, ele fazia parte da imensa lista de filmes clássicos que eu nunca assisti. Pois bem, depois de assisti-lo tenho o maior prazer em dizer que Blade Runner já é automaticamente o meu filme favorito. Nunca um filme me deixou tão pasmo. O que Blade Runner possui é algo que Hollywood aparenta ter perdido faz tempo: a capacidade de contar uma boa historia.

Baseada em um livro de Philip K. Dick (que eu estou doido pra ler), Blade Runner narra a historia de um futuro onde uma poderosa corporação foi capaz de criar andróides com caracteristicas semelhantes ou mesmo superiores ao dos próprios seres humanos. Chamados de Replicantes, só possuíam uma diferença essencial com os seres humanos: não eram construídos para possuírem emoções, porém poderiam desenvolver com o passar dos anos, o que levou seus criadores a reduzir seu tempo de funcionamento para míseros quatro anos. Os replicantes eram utilizados como escravos em colônias fora da terra, em uma dessas colônias eclodiu uma revolta, que apesar de ter sido reprimida, trouxe serias conseqüências para os replicantes que passariam a ser ilegais dentro da terra, sendo que os Blade Runners, os caçadores de andróides, seriam os responsáveis pela captura ou pela “aposentadoria” dos replicantes fugitivos. Esse é contexto encarregado de apresentar ao espectador Rick Deckard (Harrison Ford), um Blade Runner encarregado de caçar um grupo de replicantes provindos de uma das colônias extraterrestres.

A sinopse acima serve de mote para arrancar uma das tramas mais intrigantes já vistas em um filme hollywoodiano que nunca perde o gás e não subestima a inteligência do espectador. Sim, Ridley Scott obteve a fusão perfeita entre o clima Noir, a ficção cientifica futurista e questionamentos filosóficos sobre a essência do ser humano. Este ultimo quesito é justamente o que o deixa em um patamar superior aos Exterminadores do Futuro da vida. Os replicantes rebeldes buscam a longevidade que lhes foi retirada por seus criadores, a única coisa que os afastam da experiência de serem humanos. O caçador Deckard tem sua vida virada ao avesso ao conhecer a replicante Rachael, funcionaria das corporções Tyrell – responsáveis pela fabricação dos replicantes -, que acredita ser humana por ter recebido implante de memórias humanas. São questionamentos que nunca são tratados de forma simplista, ou são apenas secundários perante as cenas de ação.

Ao todo foram três versões de Blade Runner, a original (a primeira a ser exibida nos cinemas), a do diretor (que na verdade Ridley Scott apenas supervisou) e a final (que, pelo que li, seria teria as reais alterações de Ridley Scott). A versão que assisti foi a do diretor que segundo consta difere da versão original por não conter narração em off, possuir cenas que foram limadas e por alterar o final para algo mais sombrio. Já a versão final difere por corrigir erros de produção presentes nas duas versões anteriores. Gostaria de falar mais sobre a original e a final, mas como só vi a do diretor poderei entrar em detalhes mais concisos apenas sobre essa versão.

A trilha sonora é de autoria do músico progressivo Vangelis, conhecido como “mago dos sintetizadores”, teve visibilidade no meio do cinema pela trilha sonora do filme Carruagem de Fogo, laureada com o Oscar. Além de Blade Runner, Vangelis também trabalhou com Ridley Scott em 1492 – A Conquista do Paraíso. Criou para Blade Runner uma trilha que, assim como o filme passasse, a impressão de um encontro entre o Noir dos anos 30 e 40 com um futuro robótico e extremamente artificial. Destaque para a música de encerramento.

Os efeitos visuais não abafam a historia, mas também não deixam de impressionar. Vide a imensa cidade loteada por carros voadores e prédios luminares. A maquiagem ajuda na temática Cyber-Punk da obra, em especial a utilizada pelos replicantes renegados. A cereja no bolo é a fotografia, uma das mais impressionantes que eu já vi.

Apesar de todos esses quesitos, eu não tenho duvida que a saga estupenda do caçador de andróides não seria tão impressionante se não fossem os atores. Todos dão um show de atuação, inclusive Harrison Ford que está de longe no seu melhor personagem. Sean Young impressiona como a replicante que possui memórias humanas. Daryl Hannah também não faz feio no papel de replicante renegada e objeto de afeto do lider Roy. Mas de todo esse elenco singular, ninguém supera Rutger Hauer que interpreta o líder dos replicantes Roy, sem duvida um dos personagens mais marcantes que já vi em um filme.
Por fim, Blade Runner é aquilo que eu pelo menos gostaria que o cinema hollywoodiano ainda fosse: uma indústria criativa que mesmo quando realizava uma adaptação buscava dar um frescor novo a obra adaptada sem desfigurá-la completamente. Hoje Hollywood parece ter perdido o rumo e ter se tranformado em algo semelhante a um franco-atirador descontrolado, desejando “pegar emprestado” personagens de outras mídias (Videogames, quadrinhos, livros e programas de televisão) para esconder a própria mediocridade. Blade Runner pega uma obra de um escritor de ficção cientifica conceituado e a transforma em um filme completo em todos os sentidos, deixando o espectador com água na boca para ler o livro.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Projeto Novo

Acabo de criar um novo blog, Zapping, que diferente desse espaço, que é dedicado a qualquer assunto do meu interesse, será exclusivamente dedicado aquele que é ainda o meio de comunicação mais popular da humanidade: a televisão. O novo blog terá uma visão opinativa da televisão, sendo abordada tanto a Tv a cabo quanto a aberta.

O endereço é:tevezap.blogspot.com

Não deixem de visitar.

Gabriel Caio Corrêa Borges