Depois da espera de 7 anos desde a
descoberta do escândalo do Mensalão, tivemos está semana o enfim aguardado
julgamento do ocorrido. Após acompanhar os comentários nas redes sociais
e das transmissões das notícias via TV e impresso do julgamento, e dos fatos que
as precederam, me dou ao luxo de antecipar minha indignação como cidadão,
eleitor e mesmo espectador. Não apenas indignado, sinto-me humilhado ao
acompanhar um julgamento de muita importância para a população ser transformado, logo na primeira semana, em um patético circo teatral dos diversos grupos
envolvidos no ocorrido, não se restringindo apenas àqueles que estão atuando
diretamente na tribuna do STF. Vou enumerar os motivos:
1) Algumas semanas antes do julgamento, a
Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do país,
anunciou que pretendia fazer uma manifestação em relação ao Mensalão. O
objetivo? Um ato em prol dos réus. O novo presidente da entidade declarou que o
julgamento não pode ser "político". Seria ótimo se assim fosse, mas
obviamente é impossível que o julgamento não tome um rumo político. Pois só a
decisão de inocentar ou culpar há de acirrar os ânimos das diversas partes
interessadas, inclusive da CUT, que em um ano marcado
por inúmeras greves trabalhistas nos setores privados e públicos, se
preocupa em dar apoio político-partidário aos réus do processo;
2) Depois da CUT se desviar de suas funções sindicais para bancar
a capataz de um grupo que sequer possui alguma representatividade
perante os meios trabalhistas, entramos enfim na legitimação da teatralidade do
julgamento. Com especial destaque ao telejornal mais influente do país, os
meios de comunicação, que poderiam realizar uma cobertura séria, optaram
pela previsível espetacularização. No lugar de se ater ao que de fato
interessa ao público, preferem afirmar que um dos ministros do STF não
deveria julgar por ter tido alguma ligação
com o partido dos acusados, fazer apostas sobre o desfecho do julgamento e
fazer joguinhos maniqueístas. Houve honrosas exceções, em especial entre
alguns colunistas como Jânio de Freitas e Paulo Moreira Leite, mas geralmente
é uma repetição do show patético que já vimos na cobertura da CPI dos Correios;
3) E por falar em CPI dos Correios, o
Procurador Geral da República, Roberto
Gurgel, parece simular à eloquência de Roberto
Jefferson no que diz respeito a jogar para as câmeras. Em sua atuação durante o
julgamento, o procurador optou por purpurinar sua leitura do processo. Pois
além de citar os motivos para a condenação dos réus, demonstra gosto por frases
de efeito como: "É o maior caso de corrupção da história do Brasil",
apostando na amnésia estrutural da qual sofre o Brasil. Também fez citações de Chico
Buarque para enfeitar a leitura. O jogo funciona e
Gurgel simplesmente foi alçado à categoria de "herói"
pelas câmeras ansiosas em construir um;
4) Enquanto isso há sempre os interessados
presentes nos Facebooks e Twitters da vida que realmente parecem atender aos
apelos do show e mostrar que entenderam a mensagem transmitida pelos
grupos de interesse. Os efeitos são diversos: dos fanáticos petistas que chamam
o Mensalão de farsa até os reinaldistas que espumam pela boca só de ouvir o
nome do PT, passando por aqueles que acreditam de coração que um julgamento que
demorou 7 anos para ocorrer e a eventual condenação dos réus vai servir para
diminuir a incidência de corrupção no meio político. Sendo que há 20 anos,
no retorno à democracia, depusemos um Presidente da Republica que estava sendo
acusado de corrupção. Não é necessário dizer que a corrupção é praticada
até hoje nos meios públicos, mesmo depois da deposição daquele presidente, que
hoje em dia é senador.
Com isso morre qualquer impressão de que
teremos uma abordagem séria do julgamento. A população brasileira vai receber
em suas casas uma versão hollywoodiana da vida real. Enquanto os fãs de Lula e
Reinaldo Azevedo se matam para ver quem vai vencer, já temos dois perdedores:
um é a seriedade política, que foi novamente sobrepujada pelo teatrinho à
romana; o outro perdedor é o povo brasileiro, sendo mais uma vez considerado
como fantoche dos grupos políticos envolvidos com tal acontecimento, direta e
indiretamente.
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