segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma Onda Verde de tristeza



Pois é, estamos no segundo turno. Apesar de não desejar, também não me surpreendo. Já imaginava que seria difícil Dilma ganhar no primeiro turno. O que me deixa pasmo foi o que levou a tal momento: a quantidade imensa de votos que Marina recebeu, quase 20%. Marina e o Partido Verde conseguiram mobilizar o público jovem, uma fatia do eleitorado que pouco é levada em consideração. A maior amostra disso foi a popularidade da candidata na rede social Twitter. Entre os Trending Topics, os assuntos mais comentados dessa rede social, podia-se ver com constância o nome e o numero de Marina e a expressão Onda Verde cada vez mais popular.

Marina ganhou uma quantidade de votos que nenhum presidenciável nanico não via desde Collor, mas não levou. O Segundo Turno será disputado entre Dilma Rousseff do PT e José Serra do PSDB. Como Marina não conseguiu chegar lá, espera-se a lógica divisão do bolo entre os candidatos restantes. Agora, se você pensava que a “geração twitter” pretendia ou pretende elaborar uma pesquisa que vá a fundo a ambos os candidatos e decidam assim qual é melhor ou “menos pior” você esta lamentavelmente enganado.

Os resquícios da Onda Verde que podemos ver no twitter são lamentáveis. Jovens eleitores de Marina frustrados declarando voto em Serra (mudando, obviamente, a temática para uma suposta “Onda Azul”), porque simplesmente não gostam da outra candidata. Poucos são os que se propõe dar uma chance pra presidenciável petista, ou mesmo o beneficio da dúvida. Querem vê-la fora da presidência talvez por um preconceito bobo, ou talvez por falta de perspectivas.

Mostra-se agora, no segundo turno, o que realmente foi a Onda Verde: o reflexo de uma juventude alienada e carente de visão política. Votaram na Marina por que era alternativo, era "radical-chic", e não por que simpatizavam com a causa do meio ambiente ou coisa parecida. Agora muitos pretendem votar no Serra sem pesquisar de forma profunda o histórico dos dois candidatos, nem pretendem dar uma chance a Dilma.

 A internet atualmente é a mais diversa e prolífera fonte de informações, que deve claro, sempre estar acompanhada do senso crítico. As informações estão ai, mas a geração twitter prefere confiar na caixa de E-mails, onde o Span reina, onde comprovadamente difamações e calunias são disseminadas com a velocidade de uma peste mortal.

Antes que me perguntem, isso não são declarações pró-Dilma (tá talvez sejam), são sim declarações pró-pesquisa, pro-aprofundamento. Um incentivo, com alguns cascudos, ao dever do cidadão de pesquisar a fundo os candidatos que serão colocados em julgamento no dia 31 de outubro por você eleitor. Por que uma das piores coisas que você pode fazer pela democracia é votar de forma preconceituosa e imediatista.

Portanto, bom segundo turno nestas eleições, que o maior beneficiado delas seja o povo brasileiro.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pet Sounds


Quem diria que um grupo de moleques californianos, pseudosurfistas que gravavam músicas pueris sobre praias, garotas de biquíni e, claro, Surf, criariam um dos melhores e mais belos discos de todos os tempos. Os moleques eram da bem sucedida banda de Surf Music conhecido como The Beach Boys. Essa pequena reviravolta na vida desses rapazes recebe o nome de Pet Sounds, disco gravado em 1966.

Não por acaso pretensiosa desventura ocorreu na década de sessenta, na qual um bando de jovens ingleses de cabelo de cuia, também anteriormente acusados de serem simplórios e “bonzinhos”, acabou por revolucionar á música popular com seus experimentos, elevando-a de mera diversão para uma forma respeitada de expressão cultural. Diga-se de passagem, foi graças às inovações desses garotos ingleses que o americano Brian Wilson, lider dos Beach Boys, decidiu que sua banda deveria buscar novos vôos caso quisessem rivalizar com aqueles caras provindos da ilha da rainha.

Dito e feito. Brian foi atrás de Phil Spector, produtor respeitado pelos recursos sonoros que empregava nas músicas da qual era responsável. Spector concedeu a Brian seus músicos de estúdio para a gravação de Pet Sounds. Wilson também chamou um rapaz chamado Tony Asher para ajudá-lo na composição das letras. Os Beach Boys - cujo restante era formado pelos irmãos de Brian, Carl e Dennis, o primo Mike Love e o amigo Alan Jardine – ficariam responsáveis pelos vocais.

O resultado final foi esplendido. Brian Wilson não só seria tratado futuramente como um dos mais conceituados compositores de música Pop, como conseguiu atingir momentaneamente seu objetivo de rivalizar com os Beatles. Paul McCartney chegou a declarar que Pet Sounds seria a principal motivação para a criação de Sgt Pepper Lonely Hearts Club Band, álbum considerado o mais importante do Rock.

A concepção de Sgt Pepper se transformou em um novo peso na cabeça de Brian Wilson que, em sua busca por um álbum que superasse a obra-prima dos Beatles, entrou em colapso mental. Esquizofrênico, teve a doença agravada pelo uso de drogas como o LSD. O álbum que estava preparando, denominado Smile, só chegaria a ver a luz do dia em 2004.

Passando de mera historia para a opinião desse humilde blogueiro, por mais que os álbuns dos Beatles (em especial Sgt Pepper e Revolver) sejam considerados os melhores e mais importantes discos da música Pop, vejo Pet Sounds sem sombra de dúvida como o álbum mais belo que essa cultura industrializada já gerou.

É difícil não gostar das melodias criadas por Brian Wilson. Gosto de absolutamente todas as músicas do álbum, sendo que mesmo nos melhores álbuns dos Beatles houvesse algumas músicas que não apreciasse com grande entusiasmo. São quatorze canções para ouvir e cantar.

É também um álbum pop que beira a perfeição em todos os sentidos. O instrumental dos músicos cedidos por Spector pôde captar excelentemente as influencias de Wilson, do erudito ao Jazz. Os Beach Boys conseguem atingir uma das mais consagradas harmonias vocais já ouvidas no universo da música Pop. As letras, apesar de que em alguns casos podem ser consideradas datadas, demonstram a potencial capacidade lírica de Wilson e de Asher para falar de temas como envelhecimento e relacionamentos.

Selecionar as melhores músicas de um álbum perfeito é difícil, mas escolherei a faixa de abertura “Wouden’t It Be Nice”, a belíssima melodia de “Don’t Talk, a clássica “God Only Knows”, a sensacional “Here Today” e o instrumental que da nome ao álbum.

Pet Sounds por fim está no topo da minha lista de discos favoritos e demonstra como uma banda antes considerada bobinha pode amadurecer e ganhar importância.

terça-feira, 30 de março de 2010

Os Replicantes



Aproveitei o ultimo carnaval para ver filmes de ficção cientifica. Não, não no cinema onde o arrasa quarteirões denominado Avatar bate todos o recordes de bilheteria com seus efeitos em 3D “revolucionários”. Me recuso a ser mais um para inflar o ego de James Cameron. Neste carnaval simplesmente parti para algo mais barato e preferi alugar o clássico dos anos 80 Blade Runner: O Caçador de Andróides para assistir em casa.

Nunca tinha assistido ao filme, ele fazia parte da imensa lista de filmes clássicos que eu nunca assisti. Pois bem, depois de assisti-lo tenho o maior prazer em dizer que Blade Runner já é automaticamente o meu filme favorito. Nunca um filme me deixou tão pasmo. O que Blade Runner possui é algo que Hollywood aparenta ter perdido faz tempo: a capacidade de contar uma boa historia.

Baseada em um livro de Philip K. Dick (que eu estou doido pra ler), Blade Runner narra a historia de um futuro onde uma poderosa corporação foi capaz de criar andróides com caracteristicas semelhantes ou mesmo superiores ao dos próprios seres humanos. Chamados de Replicantes, só possuíam uma diferença essencial com os seres humanos: não eram construídos para possuírem emoções, porém poderiam desenvolver com o passar dos anos, o que levou seus criadores a reduzir seu tempo de funcionamento para míseros quatro anos. Os replicantes eram utilizados como escravos em colônias fora da terra, em uma dessas colônias eclodiu uma revolta, que apesar de ter sido reprimida, trouxe serias conseqüências para os replicantes que passariam a ser ilegais dentro da terra, sendo que os Blade Runners, os caçadores de andróides, seriam os responsáveis pela captura ou pela “aposentadoria” dos replicantes fugitivos. Esse é contexto encarregado de apresentar ao espectador Rick Deckard (Harrison Ford), um Blade Runner encarregado de caçar um grupo de replicantes provindos de uma das colônias extraterrestres.

A sinopse acima serve de mote para arrancar uma das tramas mais intrigantes já vistas em um filme hollywoodiano que nunca perde o gás e não subestima a inteligência do espectador. Sim, Ridley Scott obteve a fusão perfeita entre o clima Noir, a ficção cientifica futurista e questionamentos filosóficos sobre a essência do ser humano. Este ultimo quesito é justamente o que o deixa em um patamar superior aos Exterminadores do Futuro da vida. Os replicantes rebeldes buscam a longevidade que lhes foi retirada por seus criadores, a única coisa que os afastam da experiência de serem humanos. O caçador Deckard tem sua vida virada ao avesso ao conhecer a replicante Rachael, funcionaria das corporções Tyrell – responsáveis pela fabricação dos replicantes -, que acredita ser humana por ter recebido implante de memórias humanas. São questionamentos que nunca são tratados de forma simplista, ou são apenas secundários perante as cenas de ação.

Ao todo foram três versões de Blade Runner, a original (a primeira a ser exibida nos cinemas), a do diretor (que na verdade Ridley Scott apenas supervisou) e a final (que, pelo que li, seria teria as reais alterações de Ridley Scott). A versão que assisti foi a do diretor que segundo consta difere da versão original por não conter narração em off, possuir cenas que foram limadas e por alterar o final para algo mais sombrio. Já a versão final difere por corrigir erros de produção presentes nas duas versões anteriores. Gostaria de falar mais sobre a original e a final, mas como só vi a do diretor poderei entrar em detalhes mais concisos apenas sobre essa versão.

A trilha sonora é de autoria do músico progressivo Vangelis, conhecido como “mago dos sintetizadores”, teve visibilidade no meio do cinema pela trilha sonora do filme Carruagem de Fogo, laureada com o Oscar. Além de Blade Runner, Vangelis também trabalhou com Ridley Scott em 1492 – A Conquista do Paraíso. Criou para Blade Runner uma trilha que, assim como o filme passasse, a impressão de um encontro entre o Noir dos anos 30 e 40 com um futuro robótico e extremamente artificial. Destaque para a música de encerramento.

Os efeitos visuais não abafam a historia, mas também não deixam de impressionar. Vide a imensa cidade loteada por carros voadores e prédios luminares. A maquiagem ajuda na temática Cyber-Punk da obra, em especial a utilizada pelos replicantes renegados. A cereja no bolo é a fotografia, uma das mais impressionantes que eu já vi.

Apesar de todos esses quesitos, eu não tenho duvida que a saga estupenda do caçador de andróides não seria tão impressionante se não fossem os atores. Todos dão um show de atuação, inclusive Harrison Ford que está de longe no seu melhor personagem. Sean Young impressiona como a replicante que possui memórias humanas. Daryl Hannah também não faz feio no papel de replicante renegada e objeto de afeto do lider Roy. Mas de todo esse elenco singular, ninguém supera Rutger Hauer que interpreta o líder dos replicantes Roy, sem duvida um dos personagens mais marcantes que já vi em um filme.
Por fim, Blade Runner é aquilo que eu pelo menos gostaria que o cinema hollywoodiano ainda fosse: uma indústria criativa que mesmo quando realizava uma adaptação buscava dar um frescor novo a obra adaptada sem desfigurá-la completamente. Hoje Hollywood parece ter perdido o rumo e ter se tranformado em algo semelhante a um franco-atirador descontrolado, desejando “pegar emprestado” personagens de outras mídias (Videogames, quadrinhos, livros e programas de televisão) para esconder a própria mediocridade. Blade Runner pega uma obra de um escritor de ficção cientifica conceituado e a transforma em um filme completo em todos os sentidos, deixando o espectador com água na boca para ler o livro.