segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Indagações sobre a primeira semana do julgamento do Mensalão


Depois da espera de 7 anos desde a descoberta do escândalo do Mensalão, tivemos está semana o enfim aguardado julgamento do ocorrido. Após acompanhar os comentários nas redes sociais e das transmissões das notícias via TV e impresso do julgamento, e dos fatos que as precederam, me dou ao luxo de antecipar minha indignação como cidadão, eleitor e mesmo espectador. Não apenas indignado, sinto-me humilhado ao acompanhar um julgamento de muita importância para a população ser transformado, logo na primeira semana, em um patético circo teatral dos diversos grupos envolvidos no ocorrido, não se restringindo apenas àqueles que estão atuando diretamente na tribuna do STF. Vou enumerar os motivos:

1) Algumas semanas antes do julgamento, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical do país, anunciou que pretendia fazer uma manifestação em relação ao Mensalão. O objetivo? Um ato em prol dos réus. O novo presidente da entidade declarou que o julgamento não pode ser "político". Seria ótimo se assim fosse, mas obviamente é impossível que o julgamento não tome um rumo político. Pois só a decisão de inocentar ou culpar há de acirrar os ânimos das diversas partes interessadas, inclusive da CUT, que em um ano marcado por inúmeras greves trabalhistas nos setores privados e públicos, se preocupa em dar apoio político-partidário aos réus do processo;

2) Depois da CUT se desviar de suas funções sindicais para bancar a capataz de um grupo que sequer possui alguma representatividade perante os meios trabalhistas, entramos enfim na legitimação da teatralidade do julgamento. Com especial destaque ao telejornal mais influente do país, os meios de comunicação, que poderiam realizar uma cobertura séria, optaram pela previsível espetacularização. No lugar de se ater ao que de fato interessa ao público, preferem afirmar que um dos ministros do STF não deveria julgar por ter  tido alguma ligação com o partido dos acusados, fazer apostas sobre o desfecho do julgamento e fazer joguinhos maniqueístas. Houve honrosas exceções, em especial entre alguns colunistas como Jânio de Freitas e Paulo Moreira Leite, mas geralmente é uma repetição do show patético que já vimos na cobertura da CPI dos Correios;

3) E por falar em CPI dos Correios, o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, parece simular à eloquência de Roberto Jefferson no que diz respeito a jogar para as câmeras. Em sua atuação durante o julgamento, o procurador optou por purpurinar sua leitura do processo. Pois além de citar os motivos para a condenação dos réus, demonstra gosto por frases de efeito como: "É o maior caso de corrupção da história do Brasil", apostando na amnésia estrutural da qual sofre o Brasil. Também fez citações de Chico Buarque para enfeitar a leitura. O jogo funciona e Gurgel simplesmente foi alçado à categoria de "herói" pelas câmeras ansiosas em construir um; 

4) Enquanto isso há sempre os interessados presentes nos Facebooks e Twitters da vida que realmente parecem atender aos apelos do show e mostrar que entenderam a mensagem transmitida pelos grupos de interesse. Os efeitos são diversos: dos fanáticos petistas que chamam o Mensalão de farsa até os reinaldistas que espumam pela boca só de ouvir o nome do PT, passando por aqueles que acreditam de coração que um julgamento que demorou 7 anos para ocorrer e a eventual condenação dos réus vai servir para diminuir a incidência de corrupção no meio político. Sendo que há 20 anos, no retorno à democracia, depusemos um Presidente da Republica que estava sendo acusado de corrupção. Não é necessário dizer que a corrupção é praticada até hoje nos meios públicos, mesmo depois da deposição daquele presidente, que hoje em dia é senador.

Com isso morre qualquer impressão de que teremos uma abordagem séria do julgamento. A população brasileira vai receber em suas casas uma versão hollywoodiana da vida real. Enquanto os fãs de Lula e Reinaldo Azevedo se matam para ver quem vai vencer, já temos dois perdedores: um é a seriedade política, que foi novamente sobrepujada pelo teatrinho à romana; o outro perdedor é o povo brasileiro, sendo mais uma vez considerado como fantoche dos grupos políticos envolvidos com tal acontecimento, direta e indiretamente.