segunda-feira, 13 de julho de 2009

Michael Jackson, CIA e o espetáculo

Michael Jackson morreu deixando órfãos milhões de fãs e algumas dezenas de jornais de fofocas. Se é virtualmente impossível que o disco “Dark Side Of The Moon” do Pink Floyd deixe de ser tocado no planeta em qualquer instante eu não sei, mas é quase-certo que no momento em que escrevo esse texto alguém ou deve estar com o “Thriller” no radio do carro, ou deve estar arriscando um “moonwalk” na frente dos amigos. Certamente seus álbuns clássicos devem estar estourando nas prateleiras e um executivo ganancioso deve estar planejando lançar o álbum póstumo de Jackson antes que a saudade esfrie.

É lógico que alguns assuntos vêm com a morte. Não deixaram de fazer piadinhas infames que desrespeitassem um tema tão delicado. A mídia (sempre ela) não deixou de falar sobre a morte do astro, mesmo com temas mais importantes ocorrendo como o golpe de estado em Honduras. E o que dizer do funeral/espetáculo do astro (que eu não vi). Mas era esperado que cedo ou tarde fosse aparecer alguma teoria sobre a morte do astro. Surpreendentemente (mas nem tanto) os primeiros sinais de teoria conspiratória sobre o que aconteceu com Michael Jackson vieram da boca da irmã dele, Latoya Jackson, que disse que ele teria sido assassinado. Como se isso não bastasse, tem o Fantástico exibindo o vídeo do vulto que apareceu em Neverland.

Eu confesso que eu não ficarei surpreso se algum maluco publicar em sua pagina pessoal na internet que Michael Jackson foi morto pela CIA. Brincando de vidente arrisco dizer que esse maluco vai dizer que a CIA armou a morte de MJ para que ninguém repará-se no golpe de estado em Honduras. Se não a CIA, ele foi seqüestrado por Extraterrestres, como foi o Elvis. Ou, novamente ecoando o Rei do Rock, fingiu-se de morto para poder livrar-se dos fãs e da mídia.

Se o maluco vai falar que foi a CIA, problema dele. Já falaram isso sobre as mortes de Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix e até de John Lennon. O que eu sei é que estes caras e Jackson foram brilhantes em seus tempos áureos. Michael Jackson não inventou a música Pop como afirmam algumas revistas semanais, pois antes dele (levando em conta sua faze adulta, que é quando ele realmente passa a se destacar como criador) já existia o piano adocicado de Elton John, as produções de um certo Phill Spector e alguns outros artistas já faziam uma música que poderia ser qualificada simplesmente como Pop, sem ser rotulada como Rock, Soul ou outros títulos. O que Jackson fez foi reinventá-lo ao ponto de ser confundido com o próprio titulo como James Brown fez com o Soul e Elvis Presley fez com o Rock. Assim como estes, ele adicionou os elementos que faltavam, ou seja, gingado, um caldeirão multi-etnico e, principalmente, um grande espetáculo visual. Com Jackson o vídeo clipe e os Shows hiper-produzidos passaram a ser tão ou mais importante que a música em si, essa é sua grande herança, é só ver artistas atuais cujo talento musical é descartável, mas os Shows e os clipes sempre têm um apelo que chama a atenção do público.

Porém, apesar das mais de 100 milhões de cópias vendidas do disco “Thriller”, Michael Jackson não foi o artista mais influente dos últimos tempos. Esse mérito cabe melhor ao seu mestre, o também falecido James Brown, que influenciou diretamente toda a música negra de seu tempo e indiretamente todo o pop por intermédio do discípulo Michael Jackson.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Critica (!) literária

A partir desse post começo a escrever minhas opiniões sobre alguns livros que li. Não espere opiniões de um especialista, muito pelo contrario, apenas opiniões de um sujeito qualquer.


“A Volta do Idiota” de Álvaro Vargas Llosa, Carlos Alberto Montaner e Plinio Mendoza.



Como primeiro livro a ser analisado por esse sujeito qualquer, escolhi “A Volta do Idiota”. Vamos ao resumo do livro: Continuação do livro “O Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano” que ataca os “idiotas” – no entender dos autores, esquerdistas radicais e admiradores de Caudillos e ditadores – e advoga em defesa de uma ordem (Neo)liberal.

Comprei o livro por causa da interessante serie de documentários de Álvaro Vargas Llosa sobre a América Latina, dos quais só vi dois, mas serviram para atiçar meu interesse. Não nego que ,enquanto lia, acabei acreditando em muitas das coisas mais estapafúrdias que os três autores escreveram. Felizmente, já retornei ao mundo real para ver que as idéias do livro passam longe de serem consideradas sérias.

Vamos começar pelo “idiota” do titulo, é correto afirmar que muitos esquerdistas estão longe de ter os dois pés fincados na realidade (um exemplo é a afirmação de que nos EUA só existe “um” partido divido em dois setores, Republicano e Democrata, e depois aplaudir o uni partidarismo cubano). Mas os autores exageram e colocam muitos dogmas próprios da esquerda, como maior ação do estado, como coisas típicas de “idiotas” e põe como “inteligentes” os esquerdistas que professam os dogmas do livre mercado. A devoção a este segundo os autores, não é uma ideologia, mas uma “realidade” dos novos tempos dos quais todos os setores políticos devem se acostumar. Não a nada mais ideológico do que negar este caráter para o liberalismo e crer que todos os setores políticos devam professar o liberalismo como única opção é, no mínimo, ridículo.

Ainda sobre o “idiota” do titulo, os autores conseguem a proeza de inventar o paradoxo do “intelectual idiota”, ou seja, as obras intelectuais dessas figuras são importantíssimas, mas suas opiniões políticas são carentes de lógica e argumentos (o que, diga-se de passagem, muitas vezes não deixa de ser verdade). Eles não se limitam a AL, sendo encontrados no mundo todo. São eles: Noam Chomsky, James Petras, Ignácio Ramonet, Harold Pinter e Afonso Sastre, José Saramago é citado em apenas uma linha. Não há menções a Gabriel Garcia Márquez que professa todos os ensinamentos ideológicos que os autores desprezam.

A maior parte dos capítulos é dedicada aos governantes e aspirantes a governantes de esquerda da AL. Obviamente há muitas alfinetadas em Fidel Castro, Hugo Chavez, Nestor Kichner, Evo Morales e uma pequena alfinetada, em um na época recém chegado, Rafael Corrêa. Os aspirantes a governantes, ou seja, os que ainda não alcançaram os governos de suas nações são o Mexicano André Manoel Lopez Obrador e o peruano Ollanta Humala. Também fala de “recuperados” como Alan Garcia e Daniel Ortega (!...?). E claro os “esquerdistas vegetarianos”, que professam o livre-mercado ou algo próximo dele como Lula, o uruguaio Tabaré Vazquez e a chilena Michelle Bachelet (Hugo Chavez e Evo Morales são chamados de “esquerda jurássica”).

Reparando nesses capítulos encontram-se muitas coisas carentes de comprovação como, por exemplo, uma suposta conversa entre Hugo Chavez e Fidel Castro cujo propósito seria planejar a substituição da via revolucionaria para o socialismo por uma via sufragista, ou seja, o socialismo seria alcançado por via do voto. E fica a pergunta, como os autores deste livro tiveram acesso a uma conversa tão particular?

Outro defeito visível é o desconhecimento de que capitulo cada autor ficou responsável, o resultado muitas vezes é confuso e contraditório. Por exemplo: em um capitulo Lula e Tabaré Vazquez são tidos como bons exemplos de governantes de esquerda bem alinhados como o livre-mercado, mas em outro capitulo o autor põe os mesmos Lula e Tabaré como inimigos do livre-mercado. Obviamente os dois capítulos foram escritos por autores diferentes, mas o leitor não tem como saber quais eram.

O livro não se limita a AL, dedicando um pedaço de sua batalha contra os “idiotas” a Europa. Ataca-se o esquerdismo francês e seu partido socialista e também o “Buenismo” espanhol propagado pelo presidente José Luiz Rodríguez Zapatero, afirmando que ele deveria seguir os passos de seu antecessor José Maria Aznar. Elogia-se a terceira via do Trabalhismo inglês e da Social-Democracia Alemã.

Depois de rasgar criticas contra a esquerda latino-americana seus representantes e expoentes*, o livro preocupa-se em passar os exemplos que a AL deveria seguir como a Espanha de Aznar, Cingapura, o Leste Asiático, a Irlanda e a Estônia. Nem sinal da Islândia, talvez já deviam ter previsto a crise que se assolaria naquelas terras gélidas por causa do modelo que eles vêem como ideal, pena que esqueceram de prever a crise na Irlanda.

O livro nem sempre parte para a pura panfletagem (Neo)liberal com material difícil de ser levado a serio. O caso do capitulo dedicado ao Peru é um exemplo. Nele as afirmativas são convincentes e não totalmente desprovidas de fatos, como as causas da inclinação de Alan Garcia ao Liberalismo e o apoio que a esquerda deu a um general da ditadura militar peruana.

Destaca-se também a pequena sugestão de leituras indicadas pelos autores, não como “os dez livros para acabar com a idiotice” como pretendido por esses, mas sim como uma curiosidade sobre o Liberalismo moderno e, claro, como bons indícios de literatura como atesta o livro “O Zero e o Infinito” de Arthur Koestler.

Apesar dos bons momentos, os autores parecem advogar pelo pensamento único, negando o caráter ideológico do Liberalismo e fazendo crer que quem é contra ele deve ser taxado de “idiota”. Poderiam ter dedicado esse titulo aos exageros retóricos que infecta a muitos membros da esquerda como a apologia ao regime Castrista (e negação do caráter ditatorial deste) e o Anti-Americanismo que, muitas vezes, beira a tolice. Ao invés disso, optaram por fazer um panfleto que se assemelha aos de esquerda por considerar para a AL um único caminho possível, do tipo “nós estamos certos e eles errados”.


Nota:4,5


*Os expoentes da esquerda que me refiro são personalidades e movimentos sociais como Frei Beto, Maradona e o MST, atacados pelo livro. Surpreende que, dentre esses ataques, não sobra nem para as Mães da Praça de Maio, de grande importancia para a redemocratização da Argentina.