quarta-feira, 1 de julho de 2009

Critica (!) literária

A partir desse post começo a escrever minhas opiniões sobre alguns livros que li. Não espere opiniões de um especialista, muito pelo contrario, apenas opiniões de um sujeito qualquer.


“A Volta do Idiota” de Álvaro Vargas Llosa, Carlos Alberto Montaner e Plinio Mendoza.



Como primeiro livro a ser analisado por esse sujeito qualquer, escolhi “A Volta do Idiota”. Vamos ao resumo do livro: Continuação do livro “O Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano” que ataca os “idiotas” – no entender dos autores, esquerdistas radicais e admiradores de Caudillos e ditadores – e advoga em defesa de uma ordem (Neo)liberal.

Comprei o livro por causa da interessante serie de documentários de Álvaro Vargas Llosa sobre a América Latina, dos quais só vi dois, mas serviram para atiçar meu interesse. Não nego que ,enquanto lia, acabei acreditando em muitas das coisas mais estapafúrdias que os três autores escreveram. Felizmente, já retornei ao mundo real para ver que as idéias do livro passam longe de serem consideradas sérias.

Vamos começar pelo “idiota” do titulo, é correto afirmar que muitos esquerdistas estão longe de ter os dois pés fincados na realidade (um exemplo é a afirmação de que nos EUA só existe “um” partido divido em dois setores, Republicano e Democrata, e depois aplaudir o uni partidarismo cubano). Mas os autores exageram e colocam muitos dogmas próprios da esquerda, como maior ação do estado, como coisas típicas de “idiotas” e põe como “inteligentes” os esquerdistas que professam os dogmas do livre mercado. A devoção a este segundo os autores, não é uma ideologia, mas uma “realidade” dos novos tempos dos quais todos os setores políticos devem se acostumar. Não a nada mais ideológico do que negar este caráter para o liberalismo e crer que todos os setores políticos devam professar o liberalismo como única opção é, no mínimo, ridículo.

Ainda sobre o “idiota” do titulo, os autores conseguem a proeza de inventar o paradoxo do “intelectual idiota”, ou seja, as obras intelectuais dessas figuras são importantíssimas, mas suas opiniões políticas são carentes de lógica e argumentos (o que, diga-se de passagem, muitas vezes não deixa de ser verdade). Eles não se limitam a AL, sendo encontrados no mundo todo. São eles: Noam Chomsky, James Petras, Ignácio Ramonet, Harold Pinter e Afonso Sastre, José Saramago é citado em apenas uma linha. Não há menções a Gabriel Garcia Márquez que professa todos os ensinamentos ideológicos que os autores desprezam.

A maior parte dos capítulos é dedicada aos governantes e aspirantes a governantes de esquerda da AL. Obviamente há muitas alfinetadas em Fidel Castro, Hugo Chavez, Nestor Kichner, Evo Morales e uma pequena alfinetada, em um na época recém chegado, Rafael Corrêa. Os aspirantes a governantes, ou seja, os que ainda não alcançaram os governos de suas nações são o Mexicano André Manoel Lopez Obrador e o peruano Ollanta Humala. Também fala de “recuperados” como Alan Garcia e Daniel Ortega (!...?). E claro os “esquerdistas vegetarianos”, que professam o livre-mercado ou algo próximo dele como Lula, o uruguaio Tabaré Vazquez e a chilena Michelle Bachelet (Hugo Chavez e Evo Morales são chamados de “esquerda jurássica”).

Reparando nesses capítulos encontram-se muitas coisas carentes de comprovação como, por exemplo, uma suposta conversa entre Hugo Chavez e Fidel Castro cujo propósito seria planejar a substituição da via revolucionaria para o socialismo por uma via sufragista, ou seja, o socialismo seria alcançado por via do voto. E fica a pergunta, como os autores deste livro tiveram acesso a uma conversa tão particular?

Outro defeito visível é o desconhecimento de que capitulo cada autor ficou responsável, o resultado muitas vezes é confuso e contraditório. Por exemplo: em um capitulo Lula e Tabaré Vazquez são tidos como bons exemplos de governantes de esquerda bem alinhados como o livre-mercado, mas em outro capitulo o autor põe os mesmos Lula e Tabaré como inimigos do livre-mercado. Obviamente os dois capítulos foram escritos por autores diferentes, mas o leitor não tem como saber quais eram.

O livro não se limita a AL, dedicando um pedaço de sua batalha contra os “idiotas” a Europa. Ataca-se o esquerdismo francês e seu partido socialista e também o “Buenismo” espanhol propagado pelo presidente José Luiz Rodríguez Zapatero, afirmando que ele deveria seguir os passos de seu antecessor José Maria Aznar. Elogia-se a terceira via do Trabalhismo inglês e da Social-Democracia Alemã.

Depois de rasgar criticas contra a esquerda latino-americana seus representantes e expoentes*, o livro preocupa-se em passar os exemplos que a AL deveria seguir como a Espanha de Aznar, Cingapura, o Leste Asiático, a Irlanda e a Estônia. Nem sinal da Islândia, talvez já deviam ter previsto a crise que se assolaria naquelas terras gélidas por causa do modelo que eles vêem como ideal, pena que esqueceram de prever a crise na Irlanda.

O livro nem sempre parte para a pura panfletagem (Neo)liberal com material difícil de ser levado a serio. O caso do capitulo dedicado ao Peru é um exemplo. Nele as afirmativas são convincentes e não totalmente desprovidas de fatos, como as causas da inclinação de Alan Garcia ao Liberalismo e o apoio que a esquerda deu a um general da ditadura militar peruana.

Destaca-se também a pequena sugestão de leituras indicadas pelos autores, não como “os dez livros para acabar com a idiotice” como pretendido por esses, mas sim como uma curiosidade sobre o Liberalismo moderno e, claro, como bons indícios de literatura como atesta o livro “O Zero e o Infinito” de Arthur Koestler.

Apesar dos bons momentos, os autores parecem advogar pelo pensamento único, negando o caráter ideológico do Liberalismo e fazendo crer que quem é contra ele deve ser taxado de “idiota”. Poderiam ter dedicado esse titulo aos exageros retóricos que infecta a muitos membros da esquerda como a apologia ao regime Castrista (e negação do caráter ditatorial deste) e o Anti-Americanismo que, muitas vezes, beira a tolice. Ao invés disso, optaram por fazer um panfleto que se assemelha aos de esquerda por considerar para a AL um único caminho possível, do tipo “nós estamos certos e eles errados”.


Nota:4,5


*Os expoentes da esquerda que me refiro são personalidades e movimentos sociais como Frei Beto, Maradona e o MST, atacados pelo livro. Surpreende que, dentre esses ataques, não sobra nem para as Mães da Praça de Maio, de grande importancia para a redemocratização da Argentina.

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