sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Era apenas mais um gato de desenho animado

Bananas de dinamite, bigornas, marretas e pianos. Esses são os equipamentos que me dão para caçar esse rato, do qual uma vontade estranha me ordena a come-lo. Sim é estranho, pois nunca comi um rato na minha vida. Nem sequer consegui enfiar um na minha boca. Não faço a mínima idéia de qual é o sabor de um rato, mas ainda assim sinto a necessidade de pegá-lo. Creio que não só por instinto, alias instinto é o que menos importa nisso tudo. Creio que tenho de pegá-lo porque é isso que esperam de mim. Seja aqueles que compartilham esta animação comigo, ou seja aqueles que me assistem. The show must going on como dizia Pink (personagem principal da ópera rock The Wall do Pink Floyd). Ser um gato de desenho animado não é facil, na verdade é sofrível. Minha profissão não difere muito de um cortador de cana, sou sempre vítima do meu próprio esforço para pegar este animal. Alias não há ser pior que ratos, no mundo real as pessoas tem aversão destes por causa das doenças, da sujeira e da intromissão, não difere muito de uma barata qualquer. Agora num desenho a lei é a seguinte: o menor vence o maior e ponto. Ratos, aves, peixes e até baratas tem a obrigação de vencer o seu predador, não importa o grau do carater que na maioria desses seres é praticamente nulo eles tem de vencer. Perdão por citar novamente o meio músical, mas como diria Eddie Cochran, não há cura para esse Blues de verão.


Estou falando isso para vocês pelo simples fato de que hoje não foi um dia normal, na verdade, neste exato momento em que falo com vocês, seguro o premio em minhas mãos. Há, me desculpem, deveria ter dito o rato, mas para um gato de desenho animado é de fato um premio. Você deve estar pensando que sou um tolo, pois ele vai escapar com algum truque bolado na manga, é assim em todos os desenhos. Sim eu sei, por isso tive o cuidado de matá-lo de forma cuidadosa. Agora você deve estar pensando que estou subvertendo o desenho animado. Ora bolas, já estou subvertendo em capturar este animal em minhas mãos, rompendo um ciclo aparentemente interminável, portanto nada me impede de tomar tal atitude. Olho bem esta criatura pequena em minha mão, a cabeça grande, os dentes saltando para fora e o pelo cinzento, não vejo a hora de degusta-lo. Peço-lhe então licença para ficar sozinho por um momento, não se preocupem, o animador já deve estar pensando em criar um substituto para este roedor. Possivelmente não será outro rato, pode ser uma ave, um peixe, ou se o animador for realmente um louco, até uma barata pode ser o substituto. Agora peço-lhes que me deixem em paz, por favor. Amanhã lhes contarei como foi a degustação. Até logo!

O Dia Seguinte

Bem como prometi a vocês contarei o que ouve ontem na hora do deguste. Vou logo ao ponto, quando aquele rato entrou em minha boca perdi a razão de viver. E isso é serio, não estou brincando. Sempre imaginei que o sabor de um rato deveria ser como o sabor do néctar dos deuses do olimpo, afinal é o premio maximo que um gato de desenho pode conseguir. Mas o sabor parece muito com o gosto de sabão em pó e a textura é a mais borrachuda possivel. Depois desse jantar indesejável, fiquei refletindo o resto do dia sobre o seguinte assunto: foi para isso que dediquei minha vida toda.

Tanto meu pai como minha mãe como meu irmão mais velho eram caçadores frustados. Foi à triste sina deles e a minha também. Meus pais passaram a vida inteira caçando ratos até irem dessa para a melhor, já meu irmão não aguentou a barra e enlouqueceu, tenho de fazer visitas semanais ao hospício e aguentar o sofrimento de ver o irmão que sofre com alucinações de ratos perseguindo ele, é necessário que ele leve choques para que fique normal temporariamente. E só de pensar que meus pais gastaram a vida toda e meu irmão enlouqueceu por causa do desejo de capturar uma criatura que nós temos a crença de que é um premio, mas que na realidade não difere muito de um Kibe da Sadia me desperta um sentimento de fúria que toma todo o meu ser.

Desenhos animados de gato e rato ja foram feitos em quase todos os formatos: corrida de motocicletas, briga de caipiras e até segunda guerra mundial (esse formato alias não foi em desenho animado, e sim em quadrinhos). Porém, depois de comer aquele rato, percebi que faltavam formatos que ainda não foram explorados e imaginei alguns. O que acham do gato comunista e o filhote de rato, pois afinal de contas, como diziam os integralistas, comunista come criancinha. Ou o gato do Bope e o rato traficante, afinal de contas, como fazem tanta ladainha sobre o filme Tropa de Elite por que não uma versão de gato e rato. Ou o gato Bush e o rato Osama, afinal de contas você não vive sem a sua dupla favorita do noticiario.

Ja é uma formula batida, tão batida como o cenário repetitivo. Talvez as ideias acima dêem uma renovada no gênero. Agora pedirei licença a vocês novamente pois tenho de decidir o meu destino. Continuar a fazer animação nos moldes atuais, ou sair desse negócio porco e procurar um jeito alternativo de ganhar dinheiro. Por falar em alternativo, talvez me alie a um desses desenhistas independentes, um traço novo é sempre bom. Agora vou falar com o chefão. Até logo então. Desejo-lhes uma sorte melhor do que a minha.

3 comentários:

Damn disse...

Hu, Gabriel, a quantas anda a sua mente?, como diz Brunella.

Nunca pensei em tal ótica.
Gostei pacas.

Brunella disse...

nossa, Gabriel.
parabéns. outro ótimo texto!!

vc tem umas sacadas geniais.

espero ansiosa pelo próximo.

abraços e sucesso com o blog, e como escritor.

Cinéfilo disse...

Rapaz, que bom ler o que vc escreveu.
Fiquei sabendo pela Brunella que vc capitaneava seu próprio blog.
Por que desapareceu, camarada?

E essa homenagem a Dylan nesse título?

Grande abraço.