sábado, 16 de fevereiro de 2008

O Hipnotizador

Em séculos de Historia, não ouve período mais estranho que a segunda metade da década de 60. Revolução Feminista, Movimento Negro, Guerra do Vietnã e Psicodelismo. Este último o mais complexo de todos, os veteranos da segunda guerra não podiam entender o que levava seus filhos a sair por ai usando roupas coloridas, flores nos cabelos e não comprendiam uma palavra daquilo que seus filhos falavam. Era a busca pela extrema liberdade, a liberdade de sair nu por ai, a liberdade de não ser obrigado a ir a guerra e a liberdade de explorar a própria mente, mesmo que isso lhe custe à vida. E esta nova liberdade ganhou os jornais, e foi em uma breve leitura do New York Times que um homem descobriu uma nova forma de fazer negócios. Filho de poloneses foragidos da segunda guerra, Leon Friedman, vinte e nove anos, ganhava a vida como hipnoterapeuta em uma rua de New York, era fã de Rimbaud, Joyce, Freud e Mesmer. Estes dois ultimos foram que lhe troxeram interesse na hipnose. Seus negocios em New York rendiam pouco devido a falta de interesse (e ao medo) das pessoas. Porem ao chegar uma reportagem especial sobre a nova onda de San Francisco e a ambição de parte dos jovens de "abrir as portas da percepção", seja pelo uso de drogas e cogumelos ou seja pelo uso da meditação, lhe fizeram refletir de que tais atitudes tinham muito em comum com sua ocupação, afinal esses grupos queriam entrar profundamente nos segredos do subconsiente e é isso que ele oferecia a seus clientes. Percebeu então que se tratava do momento exato para dar uma renovada na profissão. Tinha ideias milaborantes. Não apenas ganharia rios de dinheiro como também seria visto como um revolucionário, um vanguardista, um pioneiro de um novo uso para a arte da hipnose.

Para poder concretizar suas ideias, porém, não podia permanecer em New York. Apesar de ter uma cena contracultural promissora, teria de ir até San Francisco, a capital desta nova sociedade, caso quisesse fazer Historia. Felizmente a sorte sorriu para ele, conseguiu comprar uma casa vitoriana no famoso destrito de Haight-Ashbury, o coração da contracultura. Animado, arrumou as malas e pegou o avião para sua nova casa em San Francisco.


Leon já conhecia a comunidade hippie de New York, era comum encontrar no Central Park hippies meditando sobre o gramado do velho parque. Porém ao se deparar com o destrito de Haight-Ashbury, percebeu que aquela reportagem do New York Times não era mera idiotice da mídia. Nunca em sua vida viu lugar tão bizarro. Era como se aqueles hippies de New York tivessem iniciado um exodo para San Francisco e no caminho iam "convertendo" os jovens que encontravam para os seus ideais. Não conseguia acreditar que iria morar em tal lugar. Mal deu dois passos e ja encontrou o primeiro "aditivado" da região, era um homem barbudo que usava uma roupa verde rasgada e varios cordões sobre o pescoço, andava dando voltas de 180 graus e gritava palavras ininteligiveis. Enquanto seguia caminho até sua nova casa, observava os abitos locais e tinha a vaga sensação de estar num circo de bizarrices.


Ao chegar a sua nova casa, desarrumou as malas e começou a planejar a organização de seu negócio. Não tinha nada pronto ainda, a ideia continuava ainda muito vaga era necessário organiza-la e não fazia ideia de como propagar o seu negócio. Porém estava otimista demais para ficar se preocupando. Começou a anotar em um pequeno caderno de bolso e aos poucos foi organizando as idéias bagunçadas.


Uma placa. Uma simples placa para Leon era o suficiente para atrair clientes que iriam espalhar seu negócio boca a boca pela cidade, assim pensava este astuto anti-heroi. Na placa estava escrita a seguinte frase:"Conheça outro método para abrir as portas da percepção. Experimente a hipnose de Leon Friedman e se aventure no mais oculto espaço do seu subconsciente.". Esta frase atraiu o primeiro cliente de Leon em San Francisco. Um homem gordo de barba e cabelos grandes, usava uma camizeta apertada com a estampa de uma caveira com um emblema na parte superior, o emblema era um circulo divido ao meio por um raio, uma metade azul e a outra vermelha. O homem disse que leu a placa que estava na rua e sentiu curiosidade de experimentar esse metodo alternativo de "viajar". Leon mandou ele se sentar na cadeira e pegou um cordão com um pedaço de cristal na ponta, sussurrou bem calmamente e girava o cordão na frente dos olhos do homem. Quando este entrou em transe, Leon lhe ordenou-lhe que entrasse o mais profundo em seu subconsciente e relata-se o que via. Ao terminar a seção o homem falou que era completamente diferente das viagens que tivera antes, pagou a Leon a taxa exigida e saiu.


Depois daquela seção os negócios de Leon estouraram, toda a comunidade local vinha experimentar seu metodo de hipnose, inclusive celebridades locais o que consagrou de vez o consultório de Leon. Mas não foi só ele quem comessou a influenciar San Francisco, pois a cidade já estava exercendo forte influencia sobre ele também. Aquele homem judeu que tinha chegado de terno e gravata e que estranhava os habitantes do destrito parecia ter desaparecido completamente. No lugar dele surgiu um cara que usava oculos de lentes rosadas, trabalhava sempre de pijama colorido e tomava Ki-Suco "especial" frequentemente.


A chegada de uma hippie de 16 anos no consultório de Leon foi a ocasião que desequilibrou sua vida definitivamente. Ao chegar no consultório contou a Leon sua historia, de como tinha fugido de casa por não aceitar mais o conservadorismo familiar e o romantismo religioso destes. Leon mandou-a sentar e iniciou a seção de hipnose. Porem esta transformou-se no inferno pessoal de Leon quando este deu ordens para a jovem acordar, mas a jovem permanecia em transe. Tentou novamente varias vezes e nada ocorreu. Tentou machuca-la dando-lhe biliscões, chutes e até um tapa na cara, mas nada funcionou. Pensou que estive-se desmaiada então fechou o consultorio e a esperou acordar. Mas passadas 4 horas nada acontecia. Seu desespero ultrapaçou o limite quando viu que não teria mais escolha. Visto que não passava de um cadaver vivo, restava-lhe silenciar o corpo. Pegou uma faca de cozinha e a cravou sobre o peito da jovem. Ao perceber a magnitude de tal atitude, não conseguiu acreditar que faria tal monstruosidade. Mas ainda estava desesperado o suficiente para livrar-se do corpo. Amarrou este num saco e o atirou pelo canal de San Francisco.


Depois desse episodio Leon fechou a clinica e caiu no vicio da Heroína que lhe garantiu a pobreza rápida e o esquecimento quase total. Quase pelo fato de que recebera uma inesperada visita de alguem especial no final do glorioso ano de 1968. Faltavam duas horas para acabar o ano e Leon se picava constantemente em sua casa quando alguem bateu na porta. Leon não acreditava que alguem ainda o procurava. Ao abrir a porta levou o maior susto de sua vida. Reconhecera aqueles cabelos negros e aquela face macia. Era a jovem que matara. Mas sua roupagem era diferente, não usava mais as coloridas vestes hippies, era um vestido negro que cobria até os pés e que detia um formidável ar de elegância. Leon numca tivera tanto medo em sua vida. A jovem falou:
- Ja está na hora de irmos, melhor vir comigo logo, pois meu irmão quer acertar uns negócios com você.
Leon assustado exclamou:
-Mas...mas como...co..como, eu lhe joguei no rio, eu me lembro, eu me lembro!
A jovem riu maliciosamente e disse para leon:
-Não sou a jovem que você jogou no riu, apenas tomei a forma dela para brincar com você um pouco. Aquela jovem que você viu é fruto de um acordo de meu irmão com o destino feito para desequilibrar você.
Confuso e assustado, Leon perguntou:
- Afinal quem é o seu irmão e quem é você!?
A jovem olhou maliciosamente para Leon e respondeu:
-Vou lhe dar uma dica querido: meu irmão tranquiliza as pessoas temporariamente e eu as tranquilizo eternamente.
Leon ficou confuso, porém, depois de um tempo lembrou-se das suas leituras de mitologia grega que afirmava que o parentesco entre o deus do sono ,Hypnos, e a representação da morte,Tânatos. A jovem confirmou:
-E exatamente isso que você esta pensando.
Apavorado, Leon não conseguia crer no que estava vendo e perguntou:
-O que vocês querem comigo?
Tânatos olhou com desprezo e falou:
-Eu nada, só vim concluir o meu trabalho, mas meu irmão não gostou muito da forma que você o tratou, ele não gostou do jeito que você fez uso do sono para ganhar fama e fortuna. Por isso ele tramou uma vingança, pediu para as Parcas tecerem seu destino conforme ele queria e ocorreu o que você presenciou, mas ainda falta uma etapa da vingança e ele esta com presa para conclui-la, portanto quero leva-lo logo pois tenho outras visitas para fazer.

Não acreditava que seria castigado por um deus, era algo irreal para ele, porém quando Tânatos se aproximou, à unica atitude desta foi um sutil estalar de dedos. Após este ato, Leon viu-se num consultório psiquiátrico e depois de um tempo percebeu que havia sido hipnotizado. Perguntou ao doutor como fora a seção, pegou seu chapeu e foi embora andando pelas ruas de Varsóvia. Ficou tão chocado com a seção que nem lembrava que era o termino do ano de 1928.

2 comentários:

Brunella disse...

que maáááááximo!!!
ele previu o movimento pscicodélico!!!

adorei o texto, Gabriel.

rico e surpreendente. meus parabéns.
espero ansiosa pelo próximo!

sucesso com o blog!

abraços!

Damn disse...

No lugar dele surgiu um cara que usava oculos de lentes rosadas, trabalhava sempre de pijama colorido e tomava Ki-Suco "especial" frequentemente.


Esse foi o verdadeiro clímax do texto, AUSHuashuAHSUah