sexta-feira, 20 de março de 2009

Fundo Do Báu E A Duração

Muitas pessoas que navegam na internet gostam de fazer uso desse fascinante meio de comunicação para descobrir aquela que seria a “nova banda do momento”. Visto que a internet permitiu, de forma interessantíssima, aos artistas se livrarem do parasitismo das grandes gravadoras que, muitas vezes, chegam ao cumulo de se meter no som para torná-lo mais rentável. O resultado é que nunca na Historia da humanidade esteve disponível tantos sons para os nossos ouvidos. Porém, não acredito que a maioria dessas bandas possa vir a ser lembrada no futuro, distante ou não. Mesmo algumas sensações, cujo sucesso na internet chegou até a abrir portas para outras mídias como o radio e a TV, tem o futuro nebuloso pela frente, visto que poucas são aquelas que permanecem na boca do povo por mais de dois meses.

Lembro-me ainda hoje de uma revista Bizz (a primeira que comprei, vale frisar) que anunciava as bandas que prometiam ser a salvação do Rock. Entre elas havia o fenômeno dos Artic Monkeys (álbum de estréia vendido mais rapidamente no Reino Unido), o grupo de Hard Rock australiano Wolfmother, os seguidores de Joe Strummer do Hard-five e o brasileiro Moptop. Bem, o Arctic Monkeys conseguiu continuar com o Hipe, lançou um segundo álbum que também foi muito comentado, mas ultimamente anda meio sumido. O Wolfmother e o Hard-fi, porém, caíram no ostracismo. Já o Moptop assinou com a Universal e lançou dois discos nesta gravadora.

Eu, porém, decidi seguir o caminho contrario a maioria dos internautas fãs de música. Dou preferência à busca por pérolas do passado. Essas pérolas podem vir de artistas imortais. Mas é mais interessante buscar esses tesouros daqueles artistas que ficaram restritos ao circuito alternativo em seu tempo, ou aqueles que ficaram esquecidos. Encontram-se no fundo do baú do Rock Clássico.

Uma boa referencia para buscar tais bandas é o site Digital Dream Door, especializado em listas sobre música. Por mais que as listas não escapem do clichê dos “100 melhores”, tem o interessante detalhe de que pode ver nomes desconhecidos ou restritos convivendo com artistas famosos ou Históricos. A lista das musicas psicodélicas é um bom exemplo. Nota-se que imortais como Jimi Hendrix e The Doors compartilham a lista com artistas raramente mencionados como The United States of América, H.P. Lovecraft (a banda, não o escritor) e outras dezenas de bandas que não tem seu nome escrito no All da Fama do Rock n’ Roll.

É mais difícil, se não quase impossível, encontrar algum disco dessas bandas no Brasil, principalmente no Espírito Santo. Pensei até ser um presente divino o fato de ter achado uma coletânea do Spirit - grupo de Rock psicodélico dos anos 60 comandado pelo guitarrista Randy Califórnia – em uma banca da Praia do Canto.

Pode-se dizer que muitos desses grupos que foram deixados para trás pelo tempo tem uma importância enorme naquilo que ouvimos hoje. Antes do Black Sabbath, por exemplo, o Blue Cheer já fazia um som pesado e distorcido. Os Monks (foto), em 1966, encheram os ouvidos com um som agressivo que influenciaria o Punk.

É interessante o esforço de algumas dessas bandas novas de negar o passado, visto que muitas tentam imitar o som que ouviram no vinil poeirento que o pai ou mãe guardam como lembrança de uma década que não volta. Como disse no começo do post, fica difícil adivinhar o futuro dessas bandas, visto não apenas a velocidade do sucesso que elas gozam, mas também a perda da importância do suporte físico (Lps, cassetes e Cds) o que dificulta o registro para as futuras gerações. Não se lançam mais aquelas obras primas que atravessam décadas e continuam atuais. Mesmo as bandas que ficaram no desconhecimento, tiveram a oportunidade de ter seus discos lançados por pequenas gravadoras, o que ajudou na descoberta de suas músicas pelas gerações futuras. Hoje, porém, por mais que os novos grupos ainda lancem discos, eles parecem mais um adereço opcional, algo que a banda decide se vai lançar ou não para faturar um dinheirinho.
Não tenho nada contra as bandas novas, tenho grande simpatia pelo Franz Ferdinand, pelo White Stripes e mais recentemente pelo neopsicodelico MGMT. Porém virou corrente deste século vinte e um a esperança de uma salvação do Rock, como se ele necessitasse ser salvo. Toda hora surge à nova banda do momento e o som não demora mais do que 10 dias para completar 100 anos e ser esquecido. As bandas antigas aprenderam a envelhecer direito tornando seu som cultuado até hoje. É como aquele livro que dura mil anos e continua sendo lido, mesmo quando pouco conhecido. Mas se as bandas da nossa geração não conseguem durar uma semana, fica difícil dizer o que falara pela nossa geração no futuro. É Andy Warhol* transformado de artista para Nostradamos.


* Andy Warhol afirmou certa vez que “no futuro, todos terão quinze minutos de fama”.

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